Pular para o conteúdo principal

Dan encontra Dan [entrevista]


DP: Em entrevista ao escritor Robert Melo, você diz que sua literatura é como um sonho.
DP: Gosto dessa ideia e dizer isso é uma obviedade porque se não gostasse, não diria.

DP: Pode ser mais objetivo?
DP: Posso. Qual a pergunta?

DP: Você escreve realismo mágico?
DP: Não sei. Acho que essa pergunta deve ser respondida por outras pessoas; teóricos e críticos, por exemplo. Eu sou o escritor.

DP: Que gosta da ideia de que sua literatura é como um sonho.
DP: Não acho que essa ideia vá definir em qual sessão da livraria meus livros estarão. Veja, não acredito que o escritor deva se preocupar com isso. O texto perde potencialidade. 


Num sonho você tem essa potencialidade onde tudo é possível. De repente você é aquele corpo na cadeira odontológica e quando o dentista se aproxima, uau!, é a Lady Gaga usando um jaleco produzido com restos de próteses dentárias. Mas talvez você esteja no consultório odontológico e um homem de branco e sorriso impecável, liga aquele aparelho com som terrível e você acorda bem quando sente a broca raspar seu siso. Foi um sonho, mas poderia ter acontecido. O homem de branco, não a Lady Gaga.

As vezes meu texto pode ser um realismo mágico que não acontece. O leitor acredita, e o eu escritor também, que algo de sobrenatural acontecerá a qualquer momento e nada disso. Em outros textos, enquanto a personagem caminha tranquila em um dia ensolarado do inverno europeu, tudo muito verossímil, então essa personagem dobra a esquina e é um beco escuro e atrás dela surge aquele ser bestial que lhe arranca a traqueia, enfiando as garras em seu pescoço, e o leitor e o eu escritor temos a traqueia arrancada também.

DP: Então alguns de seus textos são de realismo mágico?
DP: Não sei; afirme você. Eu sou apenas o escritor.




"Trecho da entrevista concedida pelo escritor Dan Poletti ao escritor Dan Poletti".