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Mostrando postagens com o rótulo danencontradan

Dan encontra Dan [entrevista]

DP: Faz um tempo que não conversamos.   DP: É como se nunca tivéssemos conversado.  DP: Há tristeza em ti.   DP: Tristeza não, desalento.  DP: Não vou dizer que são sinônimos. Não quero te confrontar   DP: Engraçado. Sempre achei que haveria esta luta infinita entre nós  DP: Você tentou outra vez submeter seu original para a Companhia das Letras?   DP: Essa parte de mim que aceita o sofrimento como algo engrandecedor. Uma ínfima parte, mas que tem lá em sua petulância a força necessária para se sobrepor a minha vontade.  DP: Li o e-mail que você enviou para a editora. O primeiro e o segundo.   DP: Não fui eu. Foi a ínfima parte.  DP: Gostaria que ela crescesse em ti. Haveria menos confronto entre nós.   DP: É, talvez houvesse. Se hoje ela quiser tomar meu corpo, tanto faz.  DP: Posso ler pra ti os dois e-mails que ela enviou?   DP: Eu já li  DP: Não, não leu. Quem leu foi a parcela imensa do Dan que aceita o desalen...

Dan encontra Dan [entrevista]

DP: Fruta preferida? DP: Tomate.   DP: Um mamífero? DP: Baleia.   DP: Assim fica difícil? DP: Oi?   DP: Fica difícil. Perguntas simples sugerem respostas ligeiras, de superfície. DP: Pois foi o que dei.   DP: Não sei se o leitor concordará. DP: Talvez eu queira saber que importância literária habitam tais perguntas.   DP: Talvez teu público considere importante ler o autor-personagem. DP: Meus escritos não sou eu. Ou você tem interesse no meu texto, que repito: não sou eu, ou então não sobra nada. A literatura basta-se. É feita serpente que consome o próprio corpo.   DP: Ser escritor no século XXI exige presença. DP: Não se o que basta é a narrativa. O escritor se faz no ato de escrever. Publicar é irrelevante. Do autor, esse sim, exige-se onipresença. É dele que se espera a selfie, a assinatura do contrato. A resposta simples, ligeira e superficial.   DP: Dan Poletti é autor ou escritor? DP: Eu sou nós. Sou vasto, contenho multidões. ...

Dan encontra Dan [entrevista]

DP: Você escreve deus com “d” minúsculo. DP: É, alguns se ofendem. DP: Talvez porque você leve para o campo ideológico. DP: É engraçado. Estas mesmas pessoas descrevem os deuses pagãos ou politeístas deste mesmo modo ofensivo. Nunca li este tipo de pergunta dirigida a eles. Mas tudo bem, não é essa a questão. Também há o apego a gramática e aí fica difícil a existência rígida de Deus e deus. O que estabeleço é um critério. Na minha literatura deus é deus e deuses e deusas. Se há desrespeito ou apego ideológico, não carrego esse fardo. O desrespeito se dá em outro terreno. E que não me venham jogar pedras se a culpa for da personagem. Que se entendam com ela. "Trecho da entrevista concedida pelo escritor Dan Poletti ao escritor Dan Poletti".  

Dan encontra Dan [entrevista]

DP: Em entrevista ao escritor Robert Melo, você diz que sua literatura é como um sonho. DP: Gosto dessa ideia e dizer isso é uma obviedade porque se não gostasse, não diria. DP: Pode ser mais objetivo? DP: Posso. Qual a pergunta? DP: Você escreve realismo mágico? DP: Não sei. Acho que essa pergunta deve ser respondida por outras pessoas; teóricos e críticos, por exemplo. Eu sou o escritor. DP: Que gosta da ideia de que sua literatura é como um sonho. DP: Não acho que essa ideia vá definir em qual sessão da livraria meus livros estarão. Veja, não acredito que o escritor deva se preocupar com isso. O texto perde potencialidade.  Num sonho você tem essa potencialidade onde tudo é possível. De repente você é aquele corpo na cadeira odontológica e quando o dentista se aproxima, uau!, é a Lady Gaga usando um jaleco produzido com restos de próteses dentárias. Mas talvez você esteja no consultório odontológico e um homem de branco e sorriso impecável, liga a...

Dan encontra Dan [entrevista]

DP: Seus diálogos são bem soltos. DP: Sim. DP: Fiquei confuso em alguns momentos, sem saber quem estava falando. DP: Sim, é isso. DP: É isso? DP: Sim, é isso. Eu poderia citar aqui alguns autores que me ajudaram nessa escolha. Mas eu vou falar apenas sobre uma obra chamada “A estrada”, escrita pelo Cormac Mccarthy. Vou resumir bem a história: temos um pai e seu filho, num mundo pós-catástrofe e eles estão vagando nesse cenário sombrio e chuvoso e nevado. Então os diálogos estão ali (Você diria que soltos) e por vezes é preciso voltar para saber quem está falando e mesmo assim nem sempre eu sei se é o pai ou o filho. DP: Imagino que você vá explicar. DP: Sim, eu não terminei. Não saber quem diz nos abre a possibilidade de perceber que poderia ter sido qualquer um dos dois. Eles já estão há tanto tempo nesse mundo (Mais de ano) e são tão dependentes um do outro que qualquer um dos dois poderia ter dito o que disse. Nós, enquanto leitores, podemos escolher e imagina...

Dan encontra Dan [entrevista]

DP: Você é um autor solitário. Escreve pensando em si como leitor final? DP: Se pensasse, não publicaria. Podemos especular que Kafka escrevia para si. Bem, ao menos se pensarmos nos livros que foram publicados postumamente, contrariando um pedido do próprio Kafka de que se queimassem todos os seus manuscritos, cartas, diários. DP: Você é um autor solitário? DP: Ah, era uma pergunta? Pensei que fosse um julgamento. E sendo afirmação, você pode pensar o que quiser e tanto faz. Agora, se quer minha opinião sobre eu ser esse “autor solitário”, sou sim. Entretanto isso é uma meia verdade. Diria que sou um escritor solitário. O ato de escrever, e que não tomem isso como lição, requer deslocamento. Você estará sozinho neste espaço vazio, inevitavelmente. Um pintor e sua tela em branco. Uma fotógrafa e seu cartão de memória vazio. A  outra metade da verdade é que sou multidão. Posso, no ato de escrever, encontrar tantas e infinitas possibilidades que seria uma injustiça di...

Dan encontra Dan [entrevista]

DP: Carol Bensimon não acredita em escrever sobre um lugar sem ter estado nele. DP: Com todo respeito à Bensimon, isso é uma opinião, não um fato. DP: Opinião factual para uma autora que teve sua obra eleita pelo prêmio Jabuti como o melhor romance de 2018. Ela ganhou o Nobel da Literatura Nacional. DP: Ainda assim, é uma opinião. Quem ganhou o Jabuti foi a obra e não a artista e aqui temos um fato. Todavia, compreendo o teor de teu questionamento provocativo. O motivo de tua pergunta é expor o fato de eu não ter estado fisicamente no Canadá, comprometendo assim minha obra. DP: É uma opinião. DP: Pois Lewis esteve em Nárnia? Bradbury em Marte? Orwell na Pista de Pouso Número 1? DP: Na fantasia tudo é possível. Mas não sou eu o entrevistado. DP: E o que é a ficção, de todo tipo e sorte, se não uma tremenda fantasia? Veja, se eu digo que em uma pequena cidade do oeste canadense, alguém construiu um castelo utilizando conchas do pacífico, isso é possível não é? Tudo acont...

Dan encontra Dan [entrevista]

DP: O romance "Instante Infinito" é ambientado no Canadá. Poderia ser no Suriname ou Cingapura. Teu romance é elitista? DP: Uma pergunta necessariamente esperada. Não digo óbvia, por ter sido construída de maneira pouco comum. Agora, há montanhas nevadas no Suriname? Cingapura tem uma cidade de nome Edmonton? Aliás, Cingapura é o quê? A razão maior, sem qualquer padrão econômico, é bem pessoal: o Canadá foi minha primeira real possibilidade de viver em um país onde a língua nativa não fosse o português brasileiro. Isso acontece em 2005. Eu tinha na época 18 anos e acabava de me formar em Gastronomia Gaúcha.  Como o curso era técnico e o diploma expedido por uma Universidade, logo apareceu um estrangeiro interessado na mão de obra. Era um gentil canadense na casa dos 30. Fui escolhido, eu e outros quatro, dentre um grupo de 70 pessoas. Em breve estaríamos embarcando para a cidade canadense de Edmonton, no estado de Alberta. Preparei todos os documentos e antes de...