Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2020

A castanheira, a cura e o mundo [conto]

A planície recobre o solo estéril. Olha a castanheira, suas folhas e frutos. Na terra, as raízes profundas buscam alimento. Uma família de aves migratórias repousa num dos galhos.  Anunciada a cura para o novo vírus e o solo ainda é o mesmo, as raízes são as mesmas, os mesmos pássaros nos galhos mesmos. Tenta se mover e não consegue. Permanece onde está e toca as paredes, mas não é seu lar. Inspira a terra seca, mas não é seu chão. Ouve o peito apertado e quer saber o que falta. Expira e a brasa ganha força feito castanheira quando encontra água. Seu peito é lar e nele há uma chama. Envolve a castanheira com seu longo abraço e vê as aves seguirem alto. Abandona as paredes, a terra. Vai buscar quem lhe quiser abrigo. Leva consigo somente o que pode carregar dentro do peito. O mundo é uma vasta planície sobre um campo fértil. 

Como é ser um morcego? [as engrenagens]

O filósofo Thomas Nagel, em seu ensaio “Como é ser um morcego? [1974]”, afirma que nunca saberemos.  “Até onde eu consigo imaginar (e não vai muito longe), isso só me diz como seria me comportar como se comporta um morcego. Mas a questão não é essa. Quero saber como é ser um morcego para um morcego”. Entretanto, há outra pergunta que atormentaria o pobre Nagel: Como é ser um romancista? A resposta imaginária de Nagel, para a pergunta que ele poderia ter feito, imagino eu, seria algo “Até onde eu consigo imaginar (e não vai muito longe), isso só me diz como seria me comportar como se comporta um romancista. Mas a questão não é essa. Quero saber como é ser um romancista para um romancista”. George Elliot, que só recentemente descobri ser o pseudônimo de uma romancista inglesa de nome Mary Ann Evans, viajou no tempo para ajudar Nagel a encontrar uma resposta. Em seu ensaio sobre o realismo alemão [1856], Mary Ann “George Elliot” Evans sacramentou que “o maior benefício que devemos ao ...